Imagine que sua banda favorita fará uma apresentação única em sua cidade e você não sabe quando terá outra chance como esta. Quanto está disposto a pagar para ver este show? Neste caso, o preço do ingresso tem menos importância para você do que para quem não é fã. A escolha de pagar caro ou não é irracional, pois sua decisão tem como base um gatilho de emoção. Assim, a régua de “valor” será conduzida por este sentimento, apoiado em suas experiências e sensações passadas. Este conceito é o que determina internamente o quanto uma ideia própria é defendida, independentemente de haver outras melhores.
Não existe uma régua capaz de medir quanto vale uma ideia, criação ou produto. O valor atribuído a algo tem origem na experiência e aprendizado adquiridos ao longo da vida e, cada indivíduo atribui diferentes valores em diversas situações. Por que isto acontece? Apenas o dono da ideia sabe quanto tempo, esforço e dedicação foram investidos para o seu desenvolvimento, o que pode ser chamado de “senso de autoria”. Como muitos outros aspectos da natureza humana, a tendência de supervalorizar o que criamos é uma mistura de vantagens e desvantagens em que os aspectos negativos são minimizados e os positivos são maximizados.
Este tipo de conduta também acontece nas empresas, que tendem a criar culturas centradas em suas crenças e produtos, fazendo com que os colaboradores acreditem que ideias desenvolvidas em seu próprio âmbito são mais úteis e importantes que as de outros indivíduos ou organizações.
Um exemplo ocorreu na Nokia. Em 2006, a empresa acumulava lançamentos de grande sucesso no mercado, com mais de 150 milhões de unidades vendidas. Entre 2007 e 2011, antes mesmo do iPhone existir, ela já tinha um projeto de smartphone touchscreen que acabou sendo cancelado. Mesmo com o lançamento bem sucedido da Apple, o então CEO da Nokia decidiu não apostar na tecnologia touch e focou na evolução de tecnologia aplicada do modelo N95. A multinacional finlandesa cometeu um erro de estratégia ao defender uma tecnologia que não sobreviveu à evolução do mercado, sendo que tinha todas as condições e informações para fazer a aposta certa. Este caso não é único, pois existem outras dezenas de exemplos onde o ego ou prepotência nos cegam diante de uma oportunidade.
É fato que cada indivíduo se afeiçoa às próprias ideias com maior intensidade e energia do que quando defende ideais de outras pessoas. No entanto, vale refletir quanto tempo e dinheiro já foram perdidos por não escutar ou analisar novas opiniões. É preciso saber criar estratégias para driblar o senso de autoria. Minha maneira de lidar é aplicar um exercício simples: primeiro, classifico os pontos positivos e negativos da minha ideia, traçando uma pontuação. Faço o mesmo exercício com as ideias terceiras e assim, de forma racional, aumento minha probabilidade de acerto.
Este modelo vem funcionando por aqui, que tal criar o seu?